Bálsamos

Ventamos nós outros, pregada a raiz no inferno

e asas esticadas tateando céus, longe, tão longe,

que pendura pontes invisíveis de acesso eterno,

oposto à ancora na qual nosso ser tênue emerge!

Dividimos o bem e mal em nossos dias materiais,

cônscios d’ incrível pureza que nossas entranhas

habita, dulcíssimo antro de mares vigiando a paz

e’inda assim tiranizamos o amor todas as manhãs!

Nem tanto ao mar nem tanto à terra, há um muro,

hirto divisor que ao degredo nos confina,não raro

a perspicácia idiota nos esquive do amor perfeito.

A juíza é a nossa consciência fazendo desconforto!

Levantam-se as nossas âncoras inesperadamente

nos arremessando a tanto abismo inconveniente,

onde aportamos, portas amplas mal escolhendo,

para caber a concha dura nossa alma encobrindo!

Depois de navegarmos mares rubros ora brancos,

no casco pintadas as cores da pureza'do pecado,

não reconhecemos de súbito o bálsamo do mundo,

fazendo-se ouvir na voz qu'intermeia os flancos!

Por vezes nos evadimos,viciados ao hirto bulício,

da calmaria quieta, que fala imediato ao coração,

coisas que as brumas lenitivas cochicham ao rio;

é a hora de treinar lição e agradecer com emoção!

Outra vez será o infinito sem caminhos, de sobra

mares brancos e rubros, entre brumas e abismos;

rugiremos o triste adeus à ave fujona da sombra

e a saudade parindo no oásis o nada que fizemos!

Icemos as velas inchadas no sentido dos bálsamos

e emoções serão atalaias guiando o povo errante,

de oásis a oásis;entr'os anelos divinais cantemos

tanto louvor que floresça o nosso Lar eternamente!

Santos-SP-07/07/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 07/07/2006
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