Condenação Eterna

permaneço aqui há séculos,

na margem oposta do Aqueronte,

no mundo subterrâneo,

esperando, esperando...

mas para mim não há esperança;

meu corpo está

nas profundezas do mar

decomposto, o qual resta apenas o osso;

hei de ficar aqui, condenado,

vendo os mortos passarem

desesperados, sepultados...

não choro porque não consigo chorar;

novas almas não param de chegar

Caronte* leva-os à outra margem,

e eu fico aqui, nesse escuro,

uma alma condenada, um corpo insepulto...

ele os leva, porque o pagaram

com duas moedas sob o olho do defunto**,

eu não, sou poeta, eterno devedor,

eterno morador desse mundo.

*Caronte é o nome de uma figura mitológica do Hades (mundo inferior) que transportava os recém-mortos na sua barca, através do rio Aqueronte até ao local que lhes era destinado.

**Era costume grego colocar uma moeda, chamada óbolo, sobre cada olho do morto, para pagar a Caronte pela viagem. Se a alma não pudesse pagar, ficaria forçosamente na margem do Aqueronte para toda a eternidade.

André Espínola
Enviado por André Espínola em 02/11/2009
Código do texto: T1901819
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