Ninguém Queria me Ouvir

Ninguém queria me ouvir

O cheiro doce das flores

Crescendo soltas no mato

Frieira, coceira no pé

Como aperta o sapato

Ninguém queria me ouvir

Eu quis correr, me joguei

Na areia branca e bonita

Estava a imagem, eu sei

Queria sujar minha roupa

Meu pé do sapato tirei

Ninguém queria me ouvir

Navio já vai bem distante

As ondas do mar me enlouquecem

O céu de azul me aquece

Queria sorrir um instante

Ninguém queria me ouvir

É mato, coqueiro, banana

É índia morena, bem solta

Serpente que passa e ameaça

É índia morena e cana

E se não é índia, é cama

Na qual amanheço sozinho

Ninguém queria me ouvir

Os pássaros sei onde estão

A água do rio onde nasce

A grama onde cresce tão verde

O milho, o trigo, o avião

Que passa lá em cima por mim

Que passa sem ameaçar

Ninguém queria me ouvir

E eu, tinha o que falar?