FLOR DE ESTRUME

O poeta versa a dor

O amor, a paixão

O rancor, ilusão

O perdão e o ciúme

Versa o sol e as estrelas

A beleza, a riqueza

O brilho, o fauno, o lume

Sabe a tudo lisonjear

Mas se nega a festejar

A flor nascida do estrume.

As fagulhas, não as trevas

São do poeta preferidas

Escrever as bonomias

As quais lhe são auferidas

Não descreve a podridão

Nem putas, nem raparigas

Também o lixo das orlas

São de todos esquecidas.

Não se atém o literato

À tristeza e ao lamento

P ra ele não há beleza

Não vê que há sutileza

Que há poesia no excremento.

O mais dulce paladar

Não permite que o azedume

O qual faz-se relembrar

Do corte, da ponta e do gume

São peripécias do verso

E esquecem que há poesia

Na flor brotada no estrume.

Versa a beleza da flor

Com sua doçura e perfume

Se é desagradável o odor

Com limpeza ou com cerume

Se não é doce o olor

Nenhuma criatura assume

Sequer se atrevem a versar

O excremento, o estrume.