o castigo da verdade

não se pode querer o que não se adivinha

minha sorte é saber do valor que eu não tinha

até que ela dissesse que eu era encantado

e que o que mais queria era estar ao meu lado

eu disse que não lhe entendia o capricho

ela protestou, mas falou num cochicho

que quem não entendia de nada era eu

que eu era o desastre que me aconteceu

fingi não saber o que responderia

chorar ou sorrir sem mostrar alegria?

pensei que quem ri sempre fica bonito

mas ela me olhou de um jeito esquisito

chamou o garçom e pagou nossa conta

depois me pegou e quase me desmonta

entramos no carro como num tropel

e fomos direto pro quarto do hotel

ali ela quase que acaba comigo

usou e abusou, me livrou do perigo

de achar que não sirvo pra nada no mundo

por não ter a chance de um sono profundo

por ter a insônia como companheira

da vida que foi uma linda besteira

que eu trouxe comigo desde a tenra idade

e que era o castigo da minha verdade

e assim o desastre de que ela falou

fazia sentido e dele brotou

meu choro, meu medo, minha desilusão

e o meu arremedo de consternação

e aí foi então que ela disse, “ô cara,

levanta-te e vem atender minha tara,

venha lamber o meu rabo”, e aí eu

gozei como o louco que nunca fudeu!

Rio, 18/08/2006