terno de linho

meus mortos sabem...

que estou escrevendo tanto

que minhas palavras balbuciam

por não saberem o que dizer

sabem e me olham enternecidos

por manterem-se escondidos

querendo me socorrer

meus mortos sabem...

dos caminhos que trilho

dos desejos entrecruzados

que se perdem na distância

como os penduricalhos

de que eu devia me desfazer

sabem e me olham desguarnecidos

por não me fazerem esquecer

meus mortos sabem...

como sou desordenado

embora queira tudo no seu lugar

como a ilusão fantasmagórica do eclipse

está em conjugação lunar

com o que penso que sou

sabem por certo onde vou

e me olham desiludidos

o que eles não sabem

é que amanhã é feriado

(não usam mais calendário)

e que com um jeito abusado

vou por o meu terno de linho

guardado com tanto carinho

que eles não vão nem saber

ao me olhar e me ver

elegantemente trajado

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 18/05/2010
Código do texto: T2265481
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