Descalço do mundo

O mundo é um calçado que não me serve

Calçá-lo causa-me aperto na consciência

Calos tornam sôfrego o prosseguir de meu entendimento

Tomo como linimento o descalçar opressivos sistemas

Livro-me das bolhas — tão pequenas —

na dor a suportar de um corpo amorfo

nos passos de meu caminhar

Descalço quero morrer

Talvez nos Elísios o rosto empalidecido

tira-me do esquecido, ao menos as pegadas

de quem o sentido,

andou cego a procurar

Quem no ardor de prosseguir

não olha sua dor que para trás ficou,

abraça pesada brisa que aos seus olhos acarinhou

De tanto e por tanto dos muitos que não vivi

Nas impróprias horas que a mim nada disse,

O mundo é só uma ideia que se tem do mundo,

mesmo que nele não se queira pensar

Olho pra ver se vejo algo

palpável assim como meus olhos fechados

Dei-me conta de que tenho uma eternidade

guardada em meu bolso

Assim como um chá de jasmim

tão mais do que um reino —

mero reino — sem Alices maravilhas

na espera de um dia sem fim

leandro Soriano
Enviado por leandro Soriano em 22/09/2006
Reeditado em 29/01/2014
Código do texto: T246352
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