Ode ao Devir Eterno da Burlesca Vida

Dos vales terrenos chega até nós

O anseio da vida: impulso desordenado,

Ébria exuberância,

Sangrento aroma de repastos fúnebres.

São espasmos de gozo, ambições sem termo,

Mãos de assassinos, de usurários, de santos,

O enxame humano fustigado pela angústia e o prazer.

Lança vapores asfixiantes e pútridos, crus e cálidos,

Respira beatitude e ânsia insopitada,

Devora-se a si mesmo para depois se vomitar.

Manobra a guerra e faz surgir às artes puras,

Adorna de ilusões a casa do pecado,

Arrasta-se, consome-se, prostitui-se todo

Nas alegrias de seu mundo infantil;

Ergue-se em ondas ao encalço de qualquer novidade

Para de novo tombar na lama.

Já nós vivemos

No gelo etéreo transluminado de estrelas;

Não conhecemos os dias nem as horas,

Não temos sexos nem idades.

Vossos pecados e angústias,

Vossos crimes e lascivos gozos,

É para nós um espetáculo como o girar dos sóis.

Cada dia é para nós o mais longo.

Debruçados tranqüilos sobre vossas vidas,

Contemplamos serenas as estrelas que giram,

Respiramos o inverno do mundo sideral;

Somos amigos do dragão celeste:

Fria e imutável é nossa eterna essência,

Frígido e astral o nosso eterno riso.

Vida: retira tua plúmbea máscara,

E nos desvela a sordidez quixotesca

De tuas portas transbordantes de ilusões!!!

(Hermann Hesse)

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 11/09/2010
Reeditado em 14/09/2010
Código do texto: T2491393
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