CONTRA-SENSOS
Quando o tronco se agigantou
diante do firmamento
contra a própria raiz blasfemou
imponente e sem sentimento.
Quando o ouro ao palácio chegou
brilhando em seu pedestal
a terra que o produzira, indagou:
o que fazes aqui? Volte ao seu lamaçal!
A seda brilhou na aparência
e na pompa da festa disse à lagarta,
ignorando quem lhe trouxe a existência:
de ti, larva mesquinha, estou farta!
E quando a pérola fulgiu soberana
esquecendo da ostra em que se criara
acusou-a de ingrata e tirana
não querendo mais quem tanto a amara.
E então o arco-íris todo enfeitado
acusou o sol de lhe roubar a luz
orgulhoso, por todos era admirado
blasfemando contra quem ainda o conduz.
E tu, Criatura Humana pensante
inteligente, cientista e diplomado
lembras de tua origem divina e errante?
Dos filhos do Universo és o mais amado.