Plutânia

O ATAQUE:

Tu, globe profano,

Gozaste setenta anos

De um celebre engano

Ousaste ludibriar-nos

Tomaste do deus o título,

Do romano do submundo

Por detrás do Caronte

teu esconderijo jazia,

tua baixeza, tua farsa.

Aos crédulos humanos, ingrato,

entornaste o noventa e quatro,

à tua gloria batizado,

abjeto, bélico, instável

Mas sim: o Estige cortamos

Em teu mundo entramos,

Profundamente nos entreolhamos

Docemente te descartamos

És, hoje, envergonhado,

Teus oblíquos não mais enganam

És condenado ao nada

e Caronte, coitada, ao teu fado

A RESPOSTA:

E tu, parvo humano,

Quão dos deuses conheces?

Se das ímpias se apetece

Quão dos astros conheces?

Se o ofusque de teus povoados

Uma parca vista a ti oferece

Quão dos globes conheces?

Se a bela Vênus transviada

Era, para ti, a musa d’Alva

E das musas, ah, das musas!

Tens apenas a Vênus terrena

E admira as Marias de Orion

Enquanto eu gozo de todas:

Estellas, Celestes e Serenas

Canterolando em meu redor

Vês, parvo?

Tua grandeza, sim, és farsa

Tua filosofia, sim, és parca

E tens moral tão fraca que,

Em erro teu,

trama, teima e trila,

E o erro já se perdeu