Renascimento

Hoje pariste um antigo segredo,

Pariste a dúvida engolida outrora.

Confessaste teu mais atroz desejo

De esvair-te as infestadas entranhas,

De livrar-te de todo o mau porvir.

Desejaste guardar teus longos dias,

Tuas noites, madrugadas enfim

De penoso estorvo a roubar-te o sono,

A apagar-te o viço da pouca idade,

A impor-te ainda mais densa labuta

A teu não pouco sofrido viver.

Hoje ao ouvir-se a goteira lá fora,

Os últimos pingos na tarde escura,

Lembram-se as lágrimas a te escorrerem,

Pelo colo a soluçar a tristeza,

Pelas paredes da frágil morada.

Mas tuas empresas não prosperaram

E por fim aceitaste receber

De bom grado o fardo que mereceste.

Hoje, ao ouvir-te as infinitas preces,

Antes penitentes que rogadoras,

Percebo que o destino é indolente,

Não revolve entranhas, mas sentimentos.

A rejeição, talvez nunca se apague.

O embotamento dos primeiros dias,

A busca inútil do primeiro afeto,

A esperança do primeiro sorriso,

Tudo isso por certo se perdeu,

Mas hoje te digo: Tens meu perdão.

Éder de Araújo
Enviado por Éder de Araújo em 04/01/2011
Reeditado em 05/01/2011
Código do texto: T2709641
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