I - Mirando o sol se pôr
na tarde em que
suava todo meu torpor.
Suava a vida
na pele dos anos
e o sol, distraidamente
afundava-se na noite.
Deus bocejava o cansaço
                      do dia parido.

II – À noite,
numa escuridão qualquer
a praia beijava a areia.
Deitei meu corpo
na espuma molhada
o orvalho como palha
lembrava em suma,
que a noite era escura.
Como escura é a distância
entre as estrelas.

III – Na madrugada
levantei caminhando
pela estrada.
Para trás ficou nada,
para frente o futuro
que encontrarei
na próxima madrugada.

No telhado do universo
Deus debruçou
a eternidade das alvoradas.

IV- Continuamente
o mundo continuou mundo.
Mesmo depois do dia,
mesmo depois da noite,
mesmo depois de tudo.
Somente os atores morriam
cedendo o palco 
aos sucessores.

V- Assombrações
de além mundo tornou-se tema
de interesse rotundo.
Eu procurava a razão,
Deus procurava ser profundo.


VI- Aleatórias
conclusões alcancei,
trilhei mistérios
e ao cortinado da morte,
meu corpo entreguei.
Tive assombrações...
Que sorte! Então andarilho
mais me embrenhei.

VII- Numa dessas aventuras
outro andarilho encontrei.
Deveras cansado, descansei.
Ele, já descansado disse-me:
Não há dor, nem cansaço,
apenas chão, imensidão,
estradas e estradas...

VIII- Cansado de descobrir “nadas”,
deitei-me numa estepe qualquer
e lá fiquei, queria morrer.
Fiquei dezenas de meses
e não conseguia...
Uma voz então disse-me:
Tolo! Eu também já tentei.
Os sistemas nascem sucessivamente
e isto, é inevitável, mas não morrem.
Apenas se transformam!
O tédio é a realidade paupável.

IX- Finalmente a voz levantou-se:
Esperar, esperas o que?
Que o console? E quem me consola?
Eterno é meu caminhar na imensidão.
Tente medir  a extensão do universo...

Mas se isto é inexorável,
se o caos é realmente inabalável.
Dar-te-ei então meu carma,
terás a cobiçada imortalidade,
não mais a ternura dos
                                cemitérios.
Solucionarás todos os mistérios,
mas descobrirá
que a existência é infinita.
E que se não amares
profundamente a vida,
não terás mais nada!
Além da concretude do tédio...