Penas sobre minha sombra...

Penas sobre minha sombra...

(Poetha, Abilio Machado. 241008)

Tudo isso que acontece na espera

Os seres ocultos das sombras

Que rasgam a cortina do tempo

E que por vezes apavoram a solidão

Cercaram as raízes do menino-homem

Que esperava encolhido ao chão

Tendo a cama ao seu oposto

Um retrato de Che Guevara

Uma flauta de bambu

O rosto entre as mãos

Páginas de revistas espalhadas

Mulheres de peitões grandes

De genitálias raspadas

E nú recebia o frio

A despertar suas confidências

Refletia a sua presença ali

Naquele amanhecer de tarde

Com a chuva batendo na vidraça

A sua boca parecia pronunciar um nome

Talvez o seu... O meu...

Ou seja lá de quem for...

De certo percebeu que a luz

E até mesmo sabia que depois daquela tempestade

Não viria a bonança...

Como poderia aceitar?!

Como representar mais uma vez?!

Se a hipocrisia era tida como dogma

E a falsidade havia sido pregada como salvação?!

Fechou os olhos depois do raio

E tudo se fez escuridão...