canoa emborcada

quase uma cama d’água

me assustei com a culpa do sal

em mim

não digo assim que não fui

pro meio do mar

sozinho

não rio do meu calafrio

no rio

é que eu tinha de estar

no meio dos peixes brincar

entre uma e outra conversa

que eu teria com o anzol

canoa emborcada pra cima

cambraia que me alucina

enxergo suas coxas revoltas

cetim, a película da água

na qual ela nada e folgueia

zombando da lua cheia

mas não

existe sereia no rio

só o frio da imensidão

da noite que cala e consente

que eu me encontre ausente

de mim é que não surjo mais

Rio, 09/06/2006