DELÍRIO AO ENTARDECER

Doira o sol no azul do céu

sopra uma brisa vinda do rio

e meu coração enterneceu

quando eu o julgava frio.

Andorinhas esvoaçam no ar

pardais saltitam travessos

e eu aprendo a soletrar

os meus escassos versos.

No vazio de meu quarto

senta-se o poeta a escrever

é um doloroso parto

o poema que ele tenta tecer.

De rimas imperfeitas

a poesia surge falaciosa

há no mar ondas desfeitas

como a espuma perniciosa.

Nuvens esgarçadas e brancas

são como filigranas de prata

e são tamanhas e tantas

que eu as julgo feitas de lata.

Nos jardins bem mais abaixo

há insectos tontos de olores

e o malmequer cabisbaixo

adormece ao sol sem pudores.

Canta o canário sinfonias

e as árvores e o seu inverso

mostram-nos melodias

das folhas verdes o reverso.

E na linha do meu poema

com rabiscos ao acaso

toco a reboque o teorema

que é quando surge o ocaso.

Jorge Humberto

04/06/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 04/06/2011
Código do texto: T3013622
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