Zé Maria

sono solto, dormindo

com expressão de leveza

talvez sonhando com as fadas

ou que fudia a marquesa

ou que estava bem com a mulher

achando que ela me quer

ou que minha filha passara

no exame de vestibular

ou que o poema que fiz

tirara o terceiro lugar

ou que se classificara

ou que por alguém fora lido

ainda que pela Gylçara

sonhava com o abraço fraterno

de muitos dos meus amigos

ou que eu tivesse um subalterno

e a sua admiração

foi quando chegou Zé Maria

sempre ali de plantão

me olhou e teve foi pena

de ter que me acordar

e decidiu concordar

que eu ficasse dormindo

talvez também não aprovasse

que eu tivesse esse sonho

pra que depois bem tristonho

eu acordasse de novo

e lá bem no meio do povo

corresse daqui para ali

pra não ter aonde chegar

pensando em acumular

algum dinheiro pra nada

pensando na falta de amigos

ou nas faltas dos meus amigos

chorando a mulher que se foi

cuidando das minhas doenças

temendo a falta de crenças

que me iluminassem a razão

e o Zé Maria então

ficou foi com pena de ter

que me deixar aprender

um pouco mais a lição

que nunca ninguém vai saber

com toda exatidão

Rio, 20/11/2006