O Leitor

Abre o livro,

Olhas as palavras,

Um suspiro,

Ao dicionário se agarra.

Vai buscando sentidos,

Deslizando pelas frases,

Degustando o que está escrito,

Lendo e relendo o desenlace.

Deixa a imaginação fluir,

Compondo universos mentais,

Pode de um tudo construir,

Não se priva de pensar por tempos verbais.

Os autores formam colheita farta,

Correntes epistemológicas que emergem,

Se permite ir além das páginas,

Com a palavra, os escritos minuciosamente descreve.

Disfaz-se numa intrudoção,

Inicia-se em uma conclusão,

Tira pequena e grande lição,

Se entedia e sente emoção.

Pensa num dia escrever também,

Poder dar aos outros um pouco disso,

Do expectador um pouco mais além,

Deseja ser artista literário sem compromisso.

O primeiro livro,

Foi forçado a ler,

Depois disso,

Fez leitura por prazer.

As gravuras não o atraem,

Prefere gravadas grafias,

As coisas exteriores não distraem,

Agrilhoados às sedutoras linhas.

Na leitura não temos sexo,

Ou antes, temos todos eles,

Vamos do céu ao inferno,

Com a proteção de só ver.

Nos excitamos,

Os sentidos são aguçados,

Amamos, odiamos,

Somos os personagens simulados.

Sentados, em pé, deitados,

Volumes finos ou grossos,

Adquiridos novos e usados,

Lemos de vários modos.

Nos remetem ao saber,

Educados pela didática livresca,

Uns julgam-se eruditos por conhecer,

Editoras lucram com essa empresa.

Presenteamos e somos presentados,

Aquela dedicatória escrita com carinho,

Existem lojas que nos fornecem alugados,

Bibliotecas públicas para atender os excluídos.

E o sujeito lê inclusive sem livro,

Sejam nas placas de rua,

Terminais bancários e seus recibos,

Até a lápide da sepultura.

Temos uma religião mais popular da atualidade,

Que chama seu Livro de livro, ou seja, bíblia,

Apenas questão de nomenclatura, é verdade,

Ainda assim, não deixa de ser um tanto quanto ridícula.

E o leitor vai lendo até ser lido,

Um dia é traduzido por algum especialista,

Tipo numa análise do seu tipo,

Onde vai ser estereotipado por um psicanalista.

O analfabeto observa o texto como criptografia,

Aos poucos vão desvelando o mistério,

Logo adentram nessa imaginação morta pela escrita,

Podendo compor a casta dos que se julgam em privilégio.

Aquela expressão infantil,

A criança contempla os símbolos,

Surge uma idiossincrasia juvenil,

Até na música escrevem o ritmo.

O letrado leitor lê a letra,

Não um catedrático em Letras,

Aprende a ler a vida dessa maneira,

Compreendendo nessa forçada hermenêutica.

Nossa propedêutica é a alfabetização,

Chegamos a decorar dicionários,

Tudo em nome da linguagem de visão,

Magos de um saber estacionário.

Assim formamos um Direito,

Fossilizando um conhecimento doutrinário,

Necessária uma arqueologia para lê-lo,

Paleontólogos remexendo esse tosco invemtário.

E o leitor segue na busca de decifrar,

Desde os primeiros códices registrados,

Tentando extirpar o angustiante pensar,

Num lúdico despertar gramático.