O que é nascer?

Suguei o ventre da alma

Para sentir o gosto de nascer,

Cuspi nas entranhas do gôzo

De uma cópula indecente.

Sem gosto, sem pudor, decadente.

Rasguei o útero do tempo

Como se fosse um papel esquálido

Perdido na sarjeta da rua,

Urinado por fantasmas amorfos

Perdidos em caretas sem cor e sem nexo.

Gritei um choro disforme, patético,

Sem saber a razão, sem saber o porquê.

Me inundei de vis impurezas,

Blasfêmias e injúrias caóticas, ouvidas,

Sentidas, vivídas em pedaços perdidos

Do tempo, como se os momentos

Fossem pedaços de panos rotos

Em que tentavam aquecer um corpo,

E um pensamento se perdia em algum lugar.

Lá no fundo, lá onde não se sabe se existe,

Mas, um dia, me percebi, me vi

No nascer da criança que não conhecia,

No contorcer da mulher que paría

Sentindo a dor lhe rasgar o corpo,

E ainda assim não vi o gosto de nascer

Embora saiba o gosto de viver. Viver!!!!

jjcruzfilho.blogspot.com

jose joao da cruz filho
Enviado por jose joao da cruz filho em 18/08/2011
Reeditado em 18/08/2011
Código do texto: T3167330