...Mas quem é Deus?
Tem Ele vida própria, absoluta?
É a dúvida, amiga imemorial?
A certeza, volátil formosura?
A divina voragem das horas?
Rascunho imperdoável?  Lisura centenária?
Ímã abismal?  Clareira só de encantos?
Corais imprescindíveis?  Portais do coração?
Gerânios tresmalhados?  Amor comunitário?
Angélico abandono?  A música da música?
Terremotos, dilúvios, cataclismas?
Enfim: Deus --- teorema intrigante
ou plena luz salvadora?
 
Deus: o crescente, a peleja,
o poente e a paz.
Os passos do Impossível,
a Voz que não se ouve
e que tu segues,
falso crente, falsa Voz.
 
Um verso imarcescível
numa folha velha ao vento.
O galo e a cigarra,
a alva e a tardinha,
a gestante e o estertor.
A estrela mais triunfante
sobre o abismo engolidor.
A procissão sertaneja
que avança exigindo água,
pão, terra e justiça.
(Mas que tudo, tudo devasta,
gafanhotalmente).
 
É o corpo, mesquinho, individual,
e a alma, coletiva, universal;
a saudade, que tudo pode,
e estes versos, que nada pedem...

Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 21/08/2011
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