O Ser e seus Cais

Vou me enlouquecer no bálsamo da Sanidade,

E envenenar-me nos elixires de toda Cura.

Vou me aprisionar no convés e no leme da Liberdade,

Indulgenciar-me ao vender minha alma para as igrejas da Usura.

Vou ilhar-me em navios distintos e opostos simultaneamente,

Mas sempre desembarco nos portos e nos cais do Nada;

Atirem ao rio as bruxas e os profetas que afirmam a vida não ser uma mortífera piada,

E se ambos se afogarem são humanos; se boiarem, queime-os na sarça ardente.

Vou parir a Justificação copulando com os pecados no Tribunal de Osíris;

Na balança do Fado, a pureza de meu coração esmaga o Universo;

Em cada descoberta, homicídio, guerras, palavras e átomos, em tudo eu vivo imerso,

E em tais tempestades, o Júbilo canta, uiva e dança nas tochas míopes de minha Íris.

Da flauta de Orfeu e do vinho verborrágico de Dionísio eu crio em fonogramas

Outros mundos adjacentes e galáxias sinfônicas onde não há leis e nem gravidade;

No âmago dos lábios da vida e da morte conseguirás beijar, repartir e doar tudo o que amas?

Nos acordes ásperos, fulgentes e fétidos de teu coração habitará a pulsação de alguma verdade?

Sintetizarei nas orlas dos vícios o Resumo de mim Infinito,

Narcotizando-me nas coisas que a mente subjetiva e objetiva coisificam;

Vou asfixiar em pleno meio-dia as rimas e os sinos de meu Grito,

Acordar-me-ei enfim de Tudo e Todos que ainda se personificam.

Jamais cessarão as dores do parto que se dispersam do Existir,

Minha alma se reconstrói ao despencar em todos os caminhos;

A Coroa da Beleza e do Conhecimento se oculta nos venenosos espinhos,

Sempre chego ao princípio de tudo quando o cais de meu Ser volta a partir.

Gilliard Alves Rodrigues

4h36min da Manhã

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 16/09/2011
Código do texto: T3222539
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