O Ébrio Entardecer

As vertigens lúcidas cantadas pelos lírios,

Onde a Loucura se enxerta em teu orvalho,

Eu despi minha nudez no bálsamo dos delírios,

E o barco das Luxúrias em minha alma entalho.

Eu bebo as cruzes flamejantes de todas as orgias,

E o Paraíso entorpecido desmaia em meu Porto.

A Verdade brada o evangelho de que tudo é morto,

Teu sono acorda gritando o medo da Morte que vigias.

O Céu fora desbotado por uma Pétala tão triste,

E afundaram no vácuo da alma os risos de tuas quimeras.

O gorjeio da Maldade em seu caminho infinito insiste

Em desengaiolar os salmos de teus demônios e feras.

O Amanhecer recolheu dos túmulos todos os gritos

Que suplicaram andar no solo escaleno onde danças

Com teus pecados absolvidos pelos vícios dos Ritos

Que aspergem a âncora da Fé onde teu ser descansas.

Eu copulo atrás das trincheiras do Abismo

Com todos os destinos conjurados do mar pelo Fado.

No Éden inacessível do Conhecimento foi enxertado

O corpo de minha Infância que tanto desejo e cismo.

A Noite, bêbada de trevas e raios, cospe novas auroras

Cujas luzes ásperas e mudas são semeadas pelo Vento.

Teu corpo é o cálice de todos os cios em que tu moras,

E a Ferida da Alma lacrimejou um afago peçonhento.

Os lamentos das Corujas estremeciam as vísceras da Montanha,

A flauta de Hamlet cantava epilepticamente alegres melancolias;

Os Remorsos enferrujavam o baú adamantino das regalias

Que acendia no coração do Vácuo uma clareira tão estranha.

E no início de meu Fim vomitei nas entranhas do espelho uma prece

Que desenterrou a verdadeira estrada inédita e profanamente santa.

A cabeça do Amor, degolada pelo machado de meu Ódio, canta

O fuzilamento da Esperança que em meu fígado apolíneo apodrece.

Por uma última vez, deixa-me acariciar os elixires de teus cabelos,

E me inebriar nas brumas de teus insanos e sedutores ensejos.

Que meu Ser em teu ser se acalente as ilusões dos Desejos

E que possa eu, além da Morte, para dentro de si eternamente retê-los.

Gilliard Alves Rodrigues

P.S: Dedico este poema a minha talentosa e exuberante amiga Shimada Coelho, a quem muito amo e admiro, tanto sua personalidade, como também sua genialidade poética, suas emoções, suas ideias e seu jeito de ser e sentir. Você é um ser humano raro, único e especial para minha vida e para meu ser minha linda poetisa e pensadora Shimada.

ACARAÚ, 25 DE NOVEMBRO DE 2011

5h01min da Manhã

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 25/11/2011
Reeditado em 28/11/2011
Código do texto: T3355612
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