Ser Sol

Todos querem ser o Sol,

Radiantes diante do mundo,

Fazendo valer sua luz como cúmulo,

Lançando no mar o orgulhoso anzol.

Mas antes, o Sol é túmulo,

Astro que nunca foi rei,

Símbolo por mais de uma vez,

Um nada que se diz tudo.

A própria Terra,

Em sua rotação,

Vira as costas sem empolgação,

Desdém para essa estrela patética.

São as trevas que permitem,

Que possamos nos apresentar,

Logo vindo seu direito reclamar,

Engolindo os iluminados que persistem.

Ser sol é tornar-se estrela decadente,

Caminhando para o dia de apagar,

Onde a empáfia não mais reinará,

Poeira cósmica sem ser reluzente.

Querem ser essas estrelas,

Que só enxergamos a sombra luminosa,

Enquanto as trevas são bem mais vantajosas,

Nada de começo ou fim que norteia.

Também desdenho,

Faço sombra,

Figura que apronta,

Fugindo em desenhos.

Sendo luz, me faço escuridão,

Acendendo, eu escureço,

Pondo-se a falar, me emudeço,

Quero ser sua contradição.

Toda luz tem por finalidade apagar,

O escuro não se finda,

Pois sempre morre o que ilumina,

O que não acende, tende a não acabar.