Cantação na Casa de Zé (só) zinho
Olha, sobe a ladeira, vamo lá pra casa cantar
Ode no chão
Chama o Zé do atabaque e a cambada também pra sentar
Todos no chão
Olha o chão muito frio, olha a pinga a Naná vai trazer
Ode no chão
Nega quer discussão, olha a animação pra valer
Ode no chão
O Zezinho animado, o Zezinho cantando, olha só
Ode no chão
Olha a palma, olha a mão, olha o grito no chão ao redor
Ode no chão
Nego sobe na roda, olha a palma, olha os olho'a fechar
Ode no chão
Chama o ponto, mandinga, olha a dança, olha o seu Patuá
Ode no chão
Olha, canta cantante cantava cantei cantador
Ode no chão
Olha prenda merenda oferenda pro meu protetor
Ode no chão
Olha a nega subindo, olha o santo querendo descer
Ode no chão
Olha a nega que canta e alguém se espanta de ver
Ode no chão
Nego sai do caminho, mas fica sozinho de pé
Ode no chão
Mas a voz bem baixinho pergunta o que é que ele quer
Ode no chão
Me dá força meu santo, minha nega desapareceu
Ode no chão
Eu não sei o que fiz, ela não quer saber mais de eu
Ode no chão
Meia-noite tu vai, joga beijo no mar pra Iansã
Ode no chão
E espera meu fio, ela pode vortá amanhã
Ode no chão
Olha a palma, olha o canto que a gente num sabe o que é
É cantação
Ele fala pra nós que quem não pode ser também é...
Eh cantação
Ele foi na cozinha, ele volta comendo feliz
É cantação
Todo mundo quer rir, tem manteiga até no nariz
É cantação
Olha o cabelo sujo, e o seio estufado surgiu
É cantação
Ele quer mais café, ele quer Candomblé, mas fugiu
Ode no chão
Olha o chão, a barata e no canto a televisão
Ode no chão
Na parede um quadrinho: São Cosme e São Damião
Eh cantação
Olha o Zé do atabaque, olha a mão que não pode cansar
É cantação
Mas o santo se foi e a gente precisa parar
A cantação
Olha o povo de pé, olha o riso e o aperto de mão
Ode acabou
Olha o povo saindo e eu rindo cheguei ao portão
Que se fechou
Fecho a porta, a janela, o chão vejo que ele cresceu
Ode acabou
Minha voz, a cozinha, o chão, tudo emudeceu
Ode acabou
Rio, agosto de 1973