INSIGHTS
Esperei-te, meu amado.
Esperei-te a noite inteira.
Meu querido, meu amado,
Banharam-me em mirra.
E lavaram meus cabelos com essência de almiscar e nogueira.
Quis perfumá-los, realçar a cor escura.
Deixá-los com a textura da seda.
Só para ti, usei as ervas raras do oriente.
E sequei-os ao vento.
No vento quente que entra livre pela janela de meu isolamento.
Deixei-os soltos, longos e revoltos.
Como gostas.
Usei o vestido dos rituais.
O mais novo, o mais leve, o mais belo de todos que já viste.
Só para ti, meu amado.
Em pé, junto à janela, ao vento; acariciei minha pele jovem e macia.
Meu pés, deixei-os decalços.
Enfentei-os apenas com os fios de ouro de oferendas.
Permaneci em silêncio, em pé defronte à janela de meu claustro,
Sentindo o vento morno.
Contemplando o horizonte branco do do deserto.
Apenas aguardando o momento de ver-te apontar em minha direção.
Esperava-te, meu amado ao pôr-do-sol.
Como em todos os pores-de-sol vieste apaixonado.
Enfrentando todos os obstáculos para chegar até mim.
-Meu amado, meu querido, por que não chegas?
Permaneci quieta, em pé.
Sem mantras, sem invocação de oráculos.
Permaneci quieta, em pé, defronte a janela, meu único refúgio.
Olhando, olhando... sob o pôr-do-sol o nascer da lua...
Até o raiar do dia permaneci em pé.
As pessoas,o tempo...
O tempo, não me lembro, não me lembro.
Meu amado, meu querido, minha alma-outra.
-Por que chegaste agora?
na aurora de uma nova era-outra.
Quando já não sou tão bela.
Nem me banharam em mirra.
E minha pele já não tem o viço e a textura da seda.
-Não pudeste vir naquele pôr -de-sol meu querido, eu sei.
O tempo, o tempo, o vento.
Permaneci em pé.
Por longo tempo ao vento.
Não me lembro, não me lembro.
Chegaste agora, falante e afoito e muito carinhoso.
Nem notaste que eu não era a mais bela sacerdotisa.
Nem estou presa num claustro,nem me levam aos oráculos.
Nem tenho mais ouro.
- És o mesmo, meu amado.
E nossas noites são calmas e intensas e seguras.
Somos eternos em nós.
Fortes, como o mistério do tempo e tudo mais...
O tempo, o tempo, meu amado