Espantalho

Vestido de trapos,

O chapéu de palha,

O corpo de matos,

Crucificado em estaca.

Pendurado na plantação,

Observando com olhos mortos,

Vigia da inanição,

Servindo de poleiro aos corvos.

Causa terror ao expectador,

Um fantoche empalado,

Cadáver ícone do ceifador,

Protetor dos campos desabitados.

Palhaço trágico camponês,

Estagnado perante a colheita,

Atacado por bichos menos corteses,

Marionete do vento que o chicoteia.

Modelo rústico do homem vitruviano,

Ícone cristão empalhado,

Sofredor que resiste ao castigo dos anos,

Servo fiel dos homens do mato.

Excita a imaginação infantil,

Tornando-se brinquedo de adultos,

Olheiro em que a vida esvaiu,

Prostrado no solo, resistente adubo.

Espanta provocando o terror da dúvida,

Insinuante no meio da plantação,

Algoz que ultrapassa o tempo, feito múmia,

Criatura transformada em assombração.