Às Portas do Limbo

Aqueles olhos

que antes continham todo um universo

agora não passam de buracos-negros,

órbitas vazias de sentimentos.

Daquele sorriso

que fazia a vida parecer ter sentido

e a felicidade ser algo possível,

restam apenas os lábios rachados,

estáticos e sem vida,

cortando um rosto outrora tão belo.

Tua alma há muito se fora

deixando apenas essa casca

fria e indiferente,

apenas uma lembrança de um ser

que talvez não mais exista.

Tentei ajudar-te a carregar teu fardo

antes que se tornasse pesado demais,

mas me repeliste com uma ferocidade

que nunca imaginei que pudesses ter.

Vi teus ombros cederem

teus joelhos se dobrarem

e tuas costas se curvarem,

até a desesperança te consumir por completo

e desistires.

Sinto-me culpado por não ter tentado

com mais convicção

te ajudar,

e é a aflição que essa culpa me causa

que me faz não desistir de te trazer de volta.

Nem que seja preciso eu ir

às profundezas do teu inferno

e ao oceano escuro da tua melancolia,

vou te buscar.

Se me perder e não conseguir retornar,

ao menos terei a satisfação

de ter tentado,

e permanecerei contigo até o fim

de nossas existências.