CONVITE 1, BANQUETE 2 DOURAÇÃO 3 - SAUDAÇÃO A ALMA DE FERNANDO PESSOA
A ALMA DE FERNANDO PESSOA
CONVITE - 1 BANQUETE - 2
DOURAÇÃO- 3
PARA ENCONTRAR A ALMA DE FERNANDO PESSOA
PERGUNTEI A UM ANJO.
QUAL A COR DA MORTALHA DA POESIA.
DISSE-ME ELE SER ELA DA COR DO CÉU.
TENDO TAMBÉM ELA, UM CINTO NA COR TURQUESA.
QUE É PARA APERTAR AS DORES DO MUNDO.
SEGURAR, COMO À UM SOCO NO ESTOMAGO.
TODO O NOSSO EXTÂSE E A NOSSA PERPLEXIDADE.
DIANTE DA VIDA , DAS DORES.
E DO MOVIMENTO DO MUNDO.
MUNDO QUE ANDA PARADO....
QUE O ANJO NÃO ACHOU FEIO , NEM BONITO....
MAS GOSTOU MUITO DA MORTALHA....
AFINANDO O NOSSO CORPO E O NOSSO EGO.
O CINTO NA MORTALHA DA POESIA
AMPLIA O ESPAÇO NECESSÁRIO AOS DESVIOS...
PARA CABER NO MUNDO, O CONTATO.
TODA A HUMANIDADE, EM AMOR E SEM ÓDIO.
O ANJO GOSTA DESTE MUNDO ONIRICO.
POR ISSO ACEITOU O CONVITE.
O MORTO, DISPONDO DE TEMPO, MUITO TEMPO.
NA PALAVRA FOI FORMANDO A FRASE.
A FUGA, O ESCAPE, O RETORNO.
A VOLTA, ENVOLTO EM POESIA.
A ESCOTILHA DEU-ME O AR E A VISÃO.
O ANJO A EUFORIA
QUE A ALMA INSÍPIDA PEDIA.
A SENSIBILIDADE DA ESTÁTUA EM MIM, IMPELIA- ME.
ASSIM, TAMBÉM ACEITE O CONVITE.
COROEI-ME COM A ÚLTIMA POESIA DO MUNDO.
A ÚLTIMA, DE FATO ,GIGANTESCA.
VESTI A ILUSÃO DE FERNANDO PESSOA.
VIDA NO SÉCULO XXI.
BANQUETE - 2
A POESIA ESTÁ NA PRAÇA.
NO PRATO SOBRE A MESA.
NA FRANQUEZA COM QUE OLHO O UNIVERSO.
NA INDIFERENÇA COM QUE ELE COSPE NOS MEUS OSSOS.
A POESIA ESTÁ SENTADA NA CADEIRA.
ESTÁ CRUCIFICADA NO POENTE AMARELADO.
ESTÁ NA AUSENCIA DOS MEUS DENTES.
NAS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ.
DESCONVERSANDO SOBRE OS NOSSOS PROJETOS.
EU VISTO A ARMADURA DO TEMPO!
EU SILENCIO A ATMOSFERA.
VOU ATRÁS DE TODAS AS MINHAS SOMBRAS PERDIDAS.
COLOCO UM CHAPÉU NO MUNDO.
PERFUMO TODAS AS FLORES DA ADVERSIDADE.
VOU E ABRO ASJANELÇAS DA MINHA CASA.
A CASA QUE ENVELHECEU COMIGO.
DAS FENDAS ENTRE OS AZULEIJOS.
BROTAM O MINHO, O DOURO, O TEJO.
CALA A BOCA, VIDA!
CALA A BOCA, LISBOA!
FUI FAZENDO A VIAGEM DOS SEGREDOS.
FUI NADANDO, FUI MORRENDO, FUI NASCENDO.
O AMOR É DOLORIDO DEMAIS.
FAZ O MAR PARECER CRUEL.
O CÉU MATAR O CÉU.
TENHO A SENSAÇÃO DE QUE NADA ACONTECEU.
TENHO A SENSAÇÃO QUE NÃO HOUVE O NASCIMENTO DE
NADA.
O HOMEM COMEMORA A MAGIA CONSTANTE DA ILUSÃO.
A PALAVRA ARRASTA-SE COMO COBRA E LUZ.
SERPENTEIA ENTREAS PAREDES GELATINOSAS DA PÁGINAS.
DO MEU DICIONÁRIO DOS ESQUECIDOS.
FIZ PARA O ESCURO, O MEU POEMA INFINITO.
FIZ PARA A LUZ, O MEU POEMA NÃO LIDO.
FIZ PARA MIM, NÃO UM NOVO POEMA.
FIZ PARA MIM, UM NOVO EMBRIÃO.
FIZ UM NOVO TEMPO.
O SOL QUEIMA PROFUNDAMENTE O MAR.
VIVER SERÁ SEMPRE DESAFIAR DEUS.
QUE NOS FEZ PARA MORRERMOS.
ONTEM COMI A IMORTALIDADE.
HOJE AMANHECI RUMI DAS VISTAS.
MEUS OLHOS NÃO ALCANÇAM NENHUMA POESIA.
MEM ESTE BANQUETE DO MUNDO.
MEUS DEDOS APENAS TATEIAM O NOVO MUNDO.
GUIAM-ME AO UM MAR PROFUNDO.
MAR DE TODAS AS PALAVRAS CEGAS E MUDAS.
DOURAÇÃO - 3
NÃO TER SENTIDO.
EIS A BELEZA DA VIDA.
EIS O CAMINHYO DE TUDO.
NÃO TER SENTIDO O AFAGO, O CARINHO.
A VELA QUE BALANA A NAU.
NÃO DEIXANDO A PALAVRA TER SENTIDO.
TUDO NOS É FALSAMENTE OFERECIDO.
NÃO PRECISAMOS DA PALAVRA.
BASTAVA SOMENTE O SENTIMENTO.
O MUNDO DE TUDO.
DE TUDO QUE CORRE POR DENTRO.
AS FACES DA BONECA DE LOUÇA.
PEDEM O SOERGUIMENTO DO IMPÉRIO.
O SANGUE QUE CORRE NA VEIA.
PEDE A TRANSMUTAÇÃO DO VERMELHO.
PARA O BRANCO FELIZ DA NEVE.
TUDO É DEMASIADAENTE COLORIDO.
BASTAVA O INCOLOR VERDADEIRO.
BASTAVA A SUPERFICIE DAS ÁGUAS.
A CALMA DO TEU SORRISO.
O MAR É BONITO DEMAIS!
A DOURAÇÃO NA LOMBADA DOS LIVROS.
NO POR DO SOL DOS MEUS COTOVELOS.
FINGE AMPLIAR O MUNDO....
E PERDOAR TODAS AS SUAS MAZELAS.
A DOURAÇÃO MÁGICA DO CISNE.
VIRANDO UM FORTE GUERREIRO NO LAGO.
O AMARGO QUE ESCORRE DO DOCE.
GANHANDO AS BOCAS E AS BORDAS DOS SONHOS.
DOUREI DE CARNE OS DESEJOS.
DOUREI DE SONHOS, O CANTAR DAS ESTRELAS.
DOUREI DE PENA, AO DERRETE-LAS.
DOUREI A VONTADE DE VOLTAR A TE-LAS.
TUDO DESTOA DO COMBINADO.
O COMBINADO ERA A RESIGNAÇÃO.
O DIREITO APENAS A METADE DO PARAISO.
O COMBINADO ERA A CONFORMAÇÃO ANTE A OPACIDADE
DESTE MUNDO E OUTROS MUNDOS A MAIS.
DOURAMOS A RUA, O NÚMERO DA CASA.
DOURAMOS A PESSOA AMADA.
E ELA NÃO EXISTE MAIS.
MAURICIO DE AZEVEDO
POEMAS DE SAUDAÇÃO. METEMPSICOSES,
A ALMA DE FERNANDO PESSOA