Via-Crúcis

Em vão as palavras acariciam a epiderme das coisas,

Buscando adentrar nas raízes de sua essência?

Perda de tempo é tentar arrancar os segredos substanciais da alma

Fisiológica de seu íntimo, e de sua existência impenetrável?

Mas o que significa “existir” ou “existência”?

Quando uma coisa nunca foi em si uma coisa verbal ou não-verbal,

E as palavras constrangidamente choram escondidas no banheiro

Suas limitações e impotências sobre tudo.

Em um hipotético universo de lógicas imprestáveis,

Em que o Amor a qualquer coisa é ópio das massas,

Em que a esperança é o farol cancerígeno dos barcos ébrios,

E a ilha da Felicidade jaz afogada no abismo empírico da Ciência.

Em vão as gotas de suor despencam das faces tão laboradas,

Empurrando para o cume do vale estas rochas que voltam para o início de tudo,

Enquanto os deuses riem de nossos fardos tão ridículos; tão ridículos

Quanto carregar nos ombros as origens de um deus sempre ter sido um deus.

Inútil é o Agora que se murcha nos pulmões do Passado,

A alma é um deserto que grita por algum sinal ou por uma sarça ardente,

Mas só há a poeira de nossas vontades que circulam entre os holocaustos

Que permanecem tão inertes e mortos quanto nossas vidas usurpadas.

E uma mão busca agarra-se a um outro ser para mascarar sua autoinfelicidade,

Mas a monotia é a suprema mãe a infundir dissabores e tédio

Em todos os deveres e ações que sacralizamos com nossas lutas e renúncias

Sempre movidas pelo miocárdio de nosso ego

O qual nunca se sacia nem com poucos ou com muitos.

Alguém no fim dessa rua exprime frases sedutoras que o outro deseja escutar,

É mais um dia típico quando tudo é atipicamente anômalo,

Mas abraçamos o banal que festeja e chora em nós e de nós

Como se fosse uma nova divindade abortada do céu,

Ou algo aparentemente fascinante que poderá modificar algumas sensações da alma.

Os mortos enterram os domesticados cidadãos vivos nas fossas de suas rotinas,

Ah! É preciso uma informação nova ou um desejo diferente para inserir ao corpo...

Caminhando pelas calçadas, não encontrei nenhum ser humano real para dialogar

Sobre toda essa psicótica estupidez da vida onde semeamos nossas idealizações.

Afinal Nada é essencial quanto tudo passa a ser essencializado;

Tudo se torna verdadeiro ou falso quando o que resta são interpretações neurais,

E o que é Indefinido permanece cada vez mais se Definindo dentro de nós,

Como se estivéssemos grávidos de todas as Castidades e Impurezas,

Mas não há vida e nem há mundos para se conceber nem ao menos uma palavra

Lenitiva ou um Gesto nauseabundo, quando o Vão é simplesmente tudo.

GILLIARD ALVES

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 07/12/2012
Código do texto: T4024082
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