Visceral

Dançava animado no meio da sala,

sozinho dançando de cueca na crença,

depois de algum tempo da minha doença,

de que me viria alguém pra dançar

comigo. Viria alguém pra mexer,

comigo viria alguém para viver.

Se tudo fosse ao contrário,

se tivesse sido o horário,

a hora de me lambuzar...

O corpo todo esparramado,

de bruços, de lado, deitado,

fitando o que não se vê.

O que me anima é a dança.

O que me sacode e me lança

pro meio da sala, pro som, pra você

que não me aparece, mesmo que eu quisesse.

Minha indiferença não é verdadeira,

fico sonhando só de brincadeira.

Fico pensando é no vendaval.

Jogo de vida, jogo mortal.

Eu me sacudo alegre feliz.

Tudo passou, dizem que por um triz.

Mas tem muita coisa que ainda lamento,

é que me esbarro naquilo que invento.

Tenho algum tempo ainda é certo.

É o que parece: dançar ou fugir.

Tenho uma prece pra quando escurece

e uma outra pro sol, se ele me vir.

E no fim do dia, se não anoitece,

ponho a roupa, mas não vou sair.

Rio, 01/05/2005