Onipresente Prostíbulo

Uma barata afogada no resto de uísque no copo,

a Vida traga mais um cigarro entre seus próprios lábios,

depois expele fumaça e nicotina em meu rosto.

O odor, ainda umedecido nas toalhas moribundas,

exala esse cheiro sagrado dos corpos suados das prostitutas,

elas bebem e riem;

Aqui_ neste santuário de fornicações e de deuses decapitados;

aqui_ neste mausoléu do futuro onde bebemos as volúpias triunfais de nossos ancestrais;

onde nenhum homem é amado, ou odiado, ou aplaudido, ou reverenciado;

onde nenhum esconderijo ou casa cabe o tamanho infinito de nossa insanidade;

e saudamos o pacto de nunca abrirmos portas para nenhuma aliança ou ideias entrarem;

aqui, ouvindo os gemidos de prazer, moídos e pisados na dor dos corpos copulando entre si.

Elas cons-somem e são con-sumidas;

dev-orando e simultaneamente sendo dev-oradas;

caminhando ébrio o Destino tropeça na perna de uma mesa e fica dormindo ao chão,

e as cinzas acumuladas em cima da mesa pelos charutos fumados pelos doze anciãos

se evolam lentamente como uma mariposa com a asa ferida.

A Vida abre as cortinas de sua própria vagina perante meus dedos olímpicos,

porém as melodias das sereias foram ceifadas em todas as ruas, casas, árvores, lugares, universos e corações.

E eu_ o errante vagabundo imprestável zombo de mim mesmo,

e a vadia da Vida trepa no chão com três amantes ainda receosos,

neste chão garrido de cuspes, vômitos, de partos e obituários, de fezes e encantos,

e o fedor descomunal e ofuscante de urina mijada pela Decadência por todos os lados

leva as Horas a ter convulsões e mais convulsões de orgasmos no andar de cima,

mas ouve-se o barulho calado de um corpo a cair do telhado,

e o piano jamais cessa de tocar suas músicas com suas próprias teclas.

Eu olho o cadáver da barata em meu copo de uísque:

bebo meu desprezo pela humanidade e por mim,

enquanto desce goela abaixo o corpo deste inseto

misturado em álcool, ilusões, dormências, e bílis,

e de todo o fogo descomunal e tragicamente dionisíaco,

mas os gritos de dor do Espelho crucificado na parede

fazem meu coração rufar réquiens profanos e colossais.

A Existência é uma voraz cadela sempre no cio.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 15/06/2013
Reeditado em 15/06/2013
Código do texto: T4342345
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