Queda e Indiferença

Desposado no chão jaz o fruto sagrado do desejo proibido;

A nudez da culpa se entranha nas fontes do coração casto,

O arrependimento não sacrifica a seiva do castigo nefasto,

Quebram-se em vários cacos a mentira em quem temos sido.

Os olhos da Liberdade espiam pelas frestas da nossa consciência

Tudo é baldio onde outrora semeamos os lírios de nossa ilusão.

Ébria, a alma se ergue, fluindo nos leitos gangrenosos da insciência,

Os lábios tecem uma prece perante anjos suicidados pela Razão.

Debruço-me sobre o longínquo poço que sou, e nada sinto e vejo:

O vácuo de meu próprio vazio é mais profundo do que o universo.

Rogo aflito a Deus, e só há o eco emudecido de meu apático desejo,

A anemia delirante da vida entrelaça em tudo os paradoxos dispersos.

Nós_ horas intercambiadas entre intelecções e esquizofrenias;

Nós_ idólatras do Ter, do Ser, do Ego, da Estupidez, de Deus...

Aspiramos por paraísos que nem a Desilusão nunca nos prometeu,

Encontrar-se e afastar-se de si mesmo são epiléticas companhias.

A Vida traga sem pestanejar mais uma dose dupla de absinto_

Quanto mais se compreende, mais o cadáver do absurdo berra.

Ser condenado ao alento e desalento é um vão epílogo indistinto,

Tudo são páginas inanes e inférteis onde a debilidade nunca se encerra,

Nossas glórias e conquistas são proletariados mortos nesse vil recinto:

A Existência é indiferente a quaisquer devaneios humanos e guerras.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 12/07/2013
Código do texto: T4384203
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