O Sal da Vida
Quem não se alimenta do sal
da vida não deve viver
melhor de quem usa esse mal
pensando que lhe dá prazer.
Pensou que seria o tal
que nada pudesse esquecer,
pois tudo seria igual
à hora do amanhecer.
Lembrou-se de ler no jornal
a frase que iria reter
no pano de fundo ao qual
a mente não quer pertencer.
Assaz delirante e frugal,
com muito pouco a dizer.
Percebe-se que é muito irreal
nas coisas que quer cometer.
Pairava no ar um sinal.
Logo iria chover.
Mas tudo seria normal,
é fácil de se entender.
No campo a pá traz a cal.
O santo se esconde e não vê
que tudo inicia afinal,
e nunca se acaba de ter.
Na base do occipital
o frio que sinto é você,
que gosto e que acho normal.
Meu medo é o que me dá prazer.
A sua presença animal
não ligo se posso entender:
se é chuva ou se é vendaval;
tormento é que não pode ser.
Mas, claro, lá vem temporal.
Que a gente não vai combater,
pois sabe que é desigual
e inútil pensar em vencer.
Só mesmo a aliança fatal
com esse seu modo de ser
permite-me a entrega total
a ponto de me corromper.
Se nunca seria o tal
que nada pudesse esquecer,
não ligo se tudo é igual
ao me imiscuir com você.
As roupas daquele varal
um dia terão de descer;
poeira do chão do quintal
com elas vão se entreter.
Sem chance de haver sucursal,
sem chance de luta a não ser
que um novo caminho ideal
a gente não queira escolher.
Rio, 03/09/2005