O outro eu

Depois da luz natalina

Outra que cega e desatina.

Por dentro nasce um ser estranho,

Medonho e desse tamanho;

Que usa as minhas pernas, meus braços,

Meus olhos e tudo o que há em mim.

Anda ereto; se esconde

Embaixo do tapete, atrás da porta,

Dentro da geladeira, no pó da gaita,

Da soleira, no fogo da lareira.

No ar condicionado, canta uma música,

Um mantra desconhecido;

Circula por uma cidade que,

Como todas as outras, é viva e uiva

Tal qual um cão em lua cheia.

Em perene e constante mutação;

Nunca está só de lua, mas de lua e meia.

Às vezes, faz brotar do chão imundo,

Um DNA sem nome, ou sobrenome,

Que traz a fórmula do bem

E traz, na garupa, a do mal também.,,

Nesses momentos sou estrangeiro

Dentro do meu próprio ser.

Na mente, as ideias estonteiam;

O corpo perde os limites e tramita,

Come, arrota, vomita às escondidas,

Contra a vontade do espírito.

O intento mais dileto desse ser

É provar a mim mesmo

Que o que está escondido não existe.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 15/10/2013
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