Nebulosa

Olhos tristes e esbugalhados

se arrastam com dificuldade

de tão pesados, olhos esses cansados

lúgubres, olhos pretos

como dois corvos enlutados.

na minha janela pousam as mariposas da noite

e ao longe se ouve o pio da coruja.

E os olhos recolhidos

pelo véu preto da viuvez solitária

goteja lágrimas de tristeza,

numa noite enevoada.

Tira com dificuldade - as mãos pálidas -

notas do piano, como quem por ele derrama

o fel da angústia e da dor que dentro se inflama.

Nesse instante faz tocar ao meu coração

tua melhor canção

que me faz dormir nas noites frias de solidão.

A senhora de preto , a viúva branca, pálida

se senta ao meu lado, e lá fora o tempo se fecha

como as cortinas que aqui dentro com o vento farfalham..

as luzes se apagam, acendo uma vela

pego na sua mão translúcida

e danço, danço e danço...

quando canso enfim pego duas taças

e o vinho velho para melhor degustarmos

De um só gole, acendo um charuto e

Da-lhes uma tragada, poluindo por dentro

O ser puro que agora se joga na lama dos vícios

e das vaidades, o vinho tinto,

a gota de sangue derramada

a vertigem dilatada, os corpos nus e embriagados

foi-se minha virgem imaculada,

e agora restou o mal-feitor desgraçado.

Que agora fecha a cara nebulosa

abre um sorriso estridente

que reluzia na face sombria

o sorriso macabro

Não dobrava se quer uma curva

da lânguida faceta que se descobrira causticada.

Retinia sinistras gargalhadas

misturadas com copos de vinho

a lágrima que incendeia, a voz alterada

o choro desmedido e o grito infernal que

calara de uma vez.

Camila Arruda
Enviado por Camila Arruda em 01/11/2013
Reeditado em 27/02/2014
Código do texto: T4552218
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