Mormaço
Sentiu-se crânio esmagado,
óculos escuro estático,
adjacências,
cabide para corpo murcho.
Que tenho eu deste mundo?
Que levo eu para a viagem
além de comprimidos?
as vezes não acredito
nem no espelho,
quem dirá então na chuva, nos abraços,
no mormaço de tardes quentes preguiçosas,
na pobreza, ou na tristeza que brota
por debaixo das portas.
vou deitar-me,
é a noite do baile,
toda a dor do mundo é só
poesia.
a tarde já levou-me em
por-do-sol,
a praia tragou-me em preto
e branco.
eu vi o braço que se perdia,
e que pedia de volta
um pouco do tempo
com gosto de café.
a luz, a luz que todos procuram,
as vezes amedronta,
as vezes cega.
só importa se é a escuridão
que seduz.
a cidade, velha e moderna,
vai pisoteando as pessoas.
milhões de corpos se chocam quando
passado e futuro desembocam
no presente.
Parou o mundo por um instante,
nasceram prematuros milhões de salvadores.
a indiferença foi a cruz
recebida como presente,
deixada aos pés da manjedoura
ornamentada.
Acamado,
na noite mais brilhante da vida.
Acalmado.
sou eu a fotografia recortada
da pré-história.
sou eu, que não mais cedo
à mesa do café da manhã.
sou eu, que rabisco os pensamentos
e descruzo os rios
nos corpos desnudos do
ocidente acalorado.
é o mormaço, o mormaço que enlouquece os homens.