Mormaço

Sentiu-se crânio esmagado,

óculos escuro estático,

adjacências,

cabide para corpo murcho.

Que tenho eu deste mundo?

Que levo eu para a viagem

além de comprimidos?

as vezes não acredito

nem no espelho,

quem dirá então na chuva, nos abraços,

no mormaço de tardes quentes preguiçosas,

na pobreza, ou na tristeza que brota

por debaixo das portas.

vou deitar-me,

é a noite do baile,

toda a dor do mundo é só

poesia.

a tarde já levou-me em

por-do-sol,

a praia tragou-me em preto

e branco.

eu vi o braço que se perdia,

e que pedia de volta

um pouco do tempo

com gosto de café.

a luz, a luz que todos procuram,

as vezes amedronta,

as vezes cega.

só importa se é a escuridão

que seduz.

a cidade, velha e moderna,

vai pisoteando as pessoas.

milhões de corpos se chocam quando

passado e futuro desembocam

no presente.

Parou o mundo por um instante,

nasceram prematuros milhões de salvadores.

a indiferença foi a cruz

recebida como presente,

deixada aos pés da manjedoura

ornamentada.

Acamado,

na noite mais brilhante da vida.

Acalmado.

sou eu a fotografia recortada

da pré-história.

sou eu, que não mais cedo

à mesa do café da manhã.

sou eu, que rabisco os pensamentos

e descruzo os rios

nos corpos desnudos do

ocidente acalorado.

é o mormaço, o mormaço que enlouquece os homens.

Hans Cristian Koch
Enviado por Hans Cristian Koch em 01/12/2013
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