TRANSCENDÊNCIA
Como, desde a noite dos tempos,
Esse coração ainda bate?
Como bate ainda no peito
Sem flecha envenenada que o mate,
Depois de tantos desenganos,
De sentidos prantos, quantos
Derramados pelos cantos
Na corrente contínua dos anos
De uma vida tão sentida,
E também tão ressentida?
O coração de poeta já nasce feito,
Tem asas eternas na revoada dos sentimentos!
Depois de tudo sentir,
Ainda tudo sente,
Tudo ainda ressente,
E pressente a aurora
De um dia iluminado,
E um nascimento renovado
Na eternidade que há de vir!
Hoje esse coração, que já foi outrora
Coração de bebê,
Coração de criança,
Coração de adolescente,
Ainda pulsa sem blasé,
Ainda pulsa com esperança,
E pulsa mais contente,
E pulsa mais forte,
Como nunca, nunca, nunca antes!
Porque, ouvindo a valsa das estrelas distantes,
Esse coração transcenderá a própria morte!