Os Caminhos Dúbios do Coração
Os olhos acordam. Bilhões de anos sem existir. O corpo se ergue
Do chão da ignorância, adquirindo o fardo divino da consciência;
Consciência: essa raiz de dores prazerosas de ilusórios albergues...
O Mundo calado rasga-se em balbúrdias de ideias e incoerências.
A ditosa Inocência insciente de ser jaz inerte no quintal enforcada
Pelo fruto capcioso da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
O Desconhecido confrange a alma, logo a Vida é antropomorfizada,
E assim nascem deuses, palavras, mitos, um mundo erudito e irreal.
Teocentrismo, Heliocentrismo, Dualismo, Cristianismo, Hedonismo;
Cientificismo, Socialismo, Capitalismo, chagas de idealismos e ideologias;
A plenitude de toda Definição concebida pelo Medo e pelo Idiotismo,
As certezas humanas são ópios e flagelos de nossas vãs mitologias.
O Iluminismo do Saber sempre resulta em tédios e em tristezas?
O Vinho do prazer já não canta e nem jubila em nosso próprio cerne.
Beijos, orgasmos, e paixões são carnavais de máscaras vazias e presas
Nessa Eucaristia elegíaca de expurgos; somos apenas hereges vermes.
Nômades ou gregários, busca-se o sedentarismo balsâmico do amor:
Uma alma cálida que semeie alentos e égides ao ser desejado e amado;
O Amor é o altar da Ilusão em que sentimentos e corpos são imolados,
Em que o Joio e o Trigo já são o coração do ser amado e do semeador.
O Coração_ bordejando a esmo entre silêncios e poços de solidões
Vocifera a amigos, a famílias, a natureza, a si mesmo, e só há degredos;
A alma, reflexo do Nada, clama aos céus por uma epifania em segredo,
Mas onde e quem é Deus? As explicações são clichês e inúteis bordões.
A Mente: torturada em ódios pelos mistérios desses cotidianos profanos!
Vida? O Epílogo de Existir é um esquife de nossos prófugos destinos;
Talvez na cruz algoz do Amor se possa encontrar um sábio desatino,
Talvez no clitóris da Mentira continuemos felizes em nossos desenganos.