VIDA  



No começo, era a vida o motivo do choro
Depois, desvendar objetos, colecionar cicatrizes
Enfiar o garfo na tomada, levar xingo

“Esse menino é o demônio” dizia a mãe orgulhosa
O pai ria feito uma tarde de domingo

Aos quinze, muita coisa mudara
O cabelo no saco, o olhar das meninas
A fumaça na mente - o copo nas mãos
As espinhas na cara – a primeira trepada

Gozar é gostoso, faz a gente sentir-se anjo
Bendito seja as mulheres e as suas benditas xoxotas
Gozar é gostoso, faz a gente se sentir poderoso

Aos dezoito, o mundo é pequeno
Ao lado de um girassol de sonhos
Quero seguir meus delírios
Quero compor abandonos

Repetir repetir - ate cansar a mente
Engolir engolir - ate a última semente

As mãos têm que sentir a pólvora
Queimar os corações
As mães têm que sentir as drogas
Mutilar suas criações

Aos trinta dar um tempo
Juntar cacos com as mãos trêmulas
Concertar os dentes e os pulmões
Assinar carteira e só tomar conhaque

“ Meu filho eu bem que te avisei”

Pior que ouvir isso
Só mesmo entrar em estado de barata

Na criação não cabe a criatura
No homem livre não cabe a fechadura
É como dormir sob um céu azul
E vomitar poesias fora da pagina....

Aos quarenta a vida não cala
Agora estou entremeio as reticências
Se correr o velho pega
Se ficar a vela apaga.