Cicatriz - Raul Franco

algo em mim morre

pra nascer outra coisa

de uma outra forma

sinto-me renovado e durmo

mas quando acordo quero tudo de volta –

a força, o brilho, a língua solta

até a angústia e a revolta

sigo derrotado pelo peso da história

sou o coma profundo do amor violentado

e não entendo o que passa

agarro-me aos santos que foram quebrados

busco um pouco da minha fé esquecida

cato os ossos que sobram depois da carne morta

jogo tudo fora

não quero reinventar o que antes fora febre

quero deixar o espírito entregue ao mistério

descansa em paz a minha fúria

abandono a minha estúpida juventude

e proclamo a exumação daquilo que me mata

não quero, não aceito essa nova morte

não mereço esse açoite

preciso da força dessa esperança

que tinge de azul os meus dias

mas ela não vem

então, caio no chão como um fiel vencido

espero a chuva e toda a possibilidade de renovação

e que nasça a lívida certeza de que tudo passa

ficando a cicatriz como recordação

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 23/03/2015
Código do texto: T5180287
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