CONFLITO
O vento leva da minha boca os meus versos,
Transformando-os em gotas d'água.
Vai semeando por entre as estrelas.
Eles temem a luz.
As estrelas tornam-se ouvidos.
Os meus versos saíram da terra,
Inconformados com a cor cinzenta.
Os sonhos querem voar, ser luz,
Perpétua criação da alma.
Mas temem a rejeição dos deuses.
Querem ser rubis no pulso do universo.
São penas arrancadas da minha pele;
Asas cortadas e entrecortadas
Inúmeras vezes pelo vidro do meu espelho.
Existe um som vazando pelo telhado,
Saindo do meu corpo febril,
Implorando por liberdade, querem ser nuvens.
E se um anjo tiver boca, souber falar, gritar,
Esbravejar, amaldiçoar, salvar, ele terá um nome?
E se ele souber ler?
Serei eu um pobre miserável
Querendo encantar os anjos, pedindo
Misericórdia para a minha desgraça.