SONETO ANESTÉSICO

Eu, filho dos barbitúricos, dos ópios e de todos os torpores:

Eu danço nas libertinas inconsciências ébrias da vida.

Essa angústia que alvorece outros horizontes de dores,

Essas chagas cotidianas cultivando na alma novas feridas.

Eu, bebendo certezas e vomitando nos templos outros embustes

Nesse dédalo pagão, capitalista, genocida, dogmático e marxista.

Gritam-me os martírios e a História das nações sôfregas e egoístas.

Queimam-me os silêncios homicidas desses imensuráveis desajustes.

Almas alucinadas e a sonolência humana injetada pelos olhos do tédio.

Viver é um divórcio de si mesmo; a morte é o berço só dos adultérios?

E embriago-me com demências lúcidas essa vida algoz e sem remédio.

O Mundo é uma barbárie de desatinos históricos e de íntimos mistérios,

As aflições nos asfixiando em cada lar, nas cópulas e nos prédios,

E o gorjeio do Amor e da Felicidade são delirantes e ilusórios cemitérios.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 02/07/2015
Reeditado em 02/07/2015
Código do texto: T5297133
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