VIDA AFLITA
Os mortos se riem da gente.
Um lépido espectro falou-me:
Porque sofrer? A passagem
Não se sente.
-Não me deixe ir.
-Dizia Concita, à vida, aflita.
-Apesar dos muitos pesares,
Vivo feliz esta existência dorida.
-Todavia, parta contente.
Por certo, outros sofrerão
Mais a frente.
Surpresa, será o teu fim,
Mas, se não for assim,
Que tanto cá como lá,
Tu não reclames de mim.
A vida já te finda a vida.
Então, despede-se e não
Te furtes de uma suicida partida.
Jaz sem, a ninguém, deixar saudade,
Insalubre criatura, morre cedo e já vai tarde.
De único consolo, terás a dormência;
A inexistência é a ausência
Completa de consciência.