MÃOS SUAVES

Suave é a mão que tece versos para quem só ouvia gemidos,

doces e belos como são os morangos no campo estendidos,

suave é a mão de quem com ela pensa pedras de ourives,

que irão, nos lóbulos, representar a beleza, a olhos sensíveis...

Suave é a mão que agarra o cão pela coleira e o guia

como faz o oculto com a tinta que descreve a poesia,

suave é a mão que afaga o rosto cansado, cheio de marcas,

que dá passagem como faz quem da cerca arranca as estacas...

Suave é mão do sorriso de quem o lança ao vizinho tristonho,

sem pensar em limites traz paz ao medo mais que medonho,

suave é a mão que não culpa o barro pela jarra defeituosa,

mas, sim, refaz cada gesto, esculpe pensando em rosas...

Suave é a mão que reescreve a noite com brilhantes astros,

o faz como faz o calmo molusco ao andar sua rota pelo mato,

suave é a mão que pousa sobre a cabeça do poeta estendido,

que quis versos que dessem aos outros seus roubados sentidos...

Suave é a mão que traz à ponta de seus dedos todo seu amor,

o espalha como unguento para curar incertezas e o torpor,

suave é a mão que desdenha de leis e assinaturas falsas,

afaga suavemente o rosto delicado de sua alma...