A Cruz

O insulto estará cravado em mim.

E para que todos o vejam,

Cravei-o nas minhas costas.

E para que todos o vejam,

Andarei pelas cidades, sempre nu,

Para que todos o vejam.

A vergonha carrego-a ao colo.

E para que me lembre sempre dela,

Cavei uma cova para si também.

E para que me lembre sempre dela,

Cairemos mortos ao mesmo tempo,

E assim ficaremos.

A culpa acompanha-me de mão dada.

E para que nunca a perca de vista,

Mantenho-a sempre perto de mim.

E para que nunca a perca de vista,

Aperto firmemente a mão,

Para ela nunca me fugir.

O medo não preciso de manter.

Ele sobrevive em mim,

Desde que me tornei homem.

Ele sobrevive em mim,

E me reconfortará

Quando for a sua hora.

Sérgio Peixoto
Enviado por Sérgio Peixoto em 17/06/2016
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