aquieta-te! (O chamado da fantasia)

Aqueles que dormem no fundo das horas

acordam, ocultos, quando o tempo não passa

e observam a poetisa que, tornada criança,

deflora com palavras a mudez do agora.

E sentados em roda à volta da menina,

contemplam em silêncio a inocência fugaz

da flor que cristaliza idéias róseas

no santo ventre de um vazio voraz.

Ah! Que belo seria se um pintor desavisado

num sonho topasse com tão rara visão,

e visse a verdade nos olhos de uma princesa

e visse a verdade entre o antes e o então

de um momento que guarda rainhas e guerreiros

de um jeito tão diáfano, num pensamento sem som...

Poderia ele pintar com destreza

aquilo que é tão suave que os olhos não vêem?

Que nada!

Pois uma sombra sempre surge, pungente e inesperada...

Assusta e torna lúcido o coração que voava

e deixa sozinha, novamente, a menina com o mundo

real, pesado, com sono, moribundo...