Abstrações de Realidade

ABSTRAÇÕES DE REALIDADES

Olho-me no espelho do banheiro. Olho-me...

Essa imagem é minha mesmo?

Apalpo meu rosto. Não consigo ter uma confirmação convincente.

Fixo minha atenção para minhas mãos.

Meus dedos se mexem com uma única ordem do meu pensamento.

Incrível! Coisas denominadas de “espelhos” as quais refletem “imagens”.

Não, chega por hoje! Todo espelho é uma mentira.

Presos em um mundo que gira ao redor de si mesmo,

e ao redor de uma estrela apelidada de sol. Isso é uma piada?

Querem que eu engula esses conceitos mitológicos?

Chega. Como pode tudo isso ser real,

como pode eu estar aqui? Aqui… Onde está mesmo esse “aqui”?

Não venham me embrutecer com essa estória pueril sobre Deus…

Deus está agorinha mesmo diante de um espelho em seu quarto,

Chorando inconsolavelmente,

perguntando-se como Ele próprio veio a existir.

E Jesus lhe responde: _ Isso é mistério meu Pai.

Eu não poderia existir de fato,

Tão pouco essa caneta e essa folha onde escrevo para expressar algo significativo.

Significativo pra que?

Todos os nossos significados essenciais são no fundo insignificantes.

A dramaturgia quixotesca de ser!

O sofá na sala representando fielmente seu personagem talhado;

A televisão inventada para o propósito do pseudo-entretedimento;

Livros na estante (para ser lidos?)

Facas na gaveta (para cortar coisas?)

Camas nos quartos (para se deitar e dormir?)

Canetas e lápis (servem pra que mesmo?)

Arquétipos cadavéricos da existência os quais exteriorizam a futilidade de Existir,

E a burguesia contemporânea encarcerada e cega pelas liturgias do Cotidiano.

Para que afinal de contas algo deve Existir?

Para cumprir finalidades específicas?

Haver vida é um absurdo,

Estar sentado aqui, nesta cadeira,

Inserido em um Universo cogitado como infinito

é algo totalmente absurdo.

Não há sentido algum em algo existir,

Seja o que for…

Apalpo o espelho do banheiro.

Essa imagem refletida não me convence de nada.

A torneira e a pia,

O chuveiro, o sabonete,

Todas essas coisas feitas para uma meta específica!!!

Ridículo,

Tudo isso é o cúmulo da ridicularidade.

E depois se morre,

Sim, morre-se de verdade,

Como se existíssemos mesmos,

Se morre pra valer.

Contudo até a tão temida senhora Morte foi transmutada em um mero elevador

que ora sobe para o “paraíso divino”,

ora desce para o “fogo eterno”.

Me dá vontade de ri,

de ri muito entenderam…

Metrópoles construídas sob os alicerces da irrealidade.

Levem-me pra bem longe,

Arranquem-me dessa loucura idiota,

Até mesmo em se pensar que se está pensando é algo difícil de se acreditar.

Nada deveria existir.

Nada mesmo!

Jesus olha para o Deus-Pai,

e depois para o espírito santo que flutua sabe-se lá como,

e então ele baixa a cabeça tristemente,

sem entender como tudo aquilo pode ser verdadeiramente real.

Mas é preciso representar a todo custo o papel de “ser um Deus”,

Ou de ser um messias,

Ou de ser um professor, um bancário, um pescador, um presidente,

Um escritor, um artista, ou de ser um comerciante,

Não importa,

É preciso representar essa insanidade de Existir de modo convincente.

Somos os Heróis diletantes do Nada.

gilliard alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 12/08/2007
Reeditado em 17/08/2010
Código do texto: T603925
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