Sofro, logo Eu Vivo!

Até pelo próprio silêncio eu fui silenciado,

Até pela alegria eu fui entristecido,

Até pela vida eu fui mortificado,

Até pelo amor eu fui odiado,

Até pelo preconceito eu fui discriminado.

Até no seio dos vales das sombras da morte eu vou me encontrar!

Até pelo perdão eu fui condenado,

Até pelas ruas fui zombado,

Até pela esperança eu fui desorientado;

Até pela fidelidade eu fui traído,

Meus Deus! Até pela realidade eu fui iludido.

Até pelo escravo capitalista eu fui escravizado,

Até pelo desprezo eu fui desprezado,

Até pela amizade eu fui descartado,

Até a solidão me expulsou para os braços do abandono me abandonar!

Até nas profundezas do deserto, irei enfrentar os meus demônios!

Onde há árvores? Onde há seres vivos realmente?

Em que mundo fui jogado? O que vejo é o que há?

Até pela minha cruz eu fui crucificado,

Até pela Lembrança eu fui esquecido,

Até pela sabedoria humana eu fui estupidificado,

Até pela rejeição eu fui rejeitado,

Até pelas doutrinas da salvação eu fui condenado,

Até pelo prisioneiro de sorriso aberto cheio de dogmas fui aprisionado,

Até por isso... até por aquilo... a- té ... Quem pensamos que somos?!

Até pelo fio da tenebrosa espada, eu jamais vou me render!

Pois sou mais forte do que minhas próprias forças,

Sou o meu próprio vento e o meu próprio sol,

Sou os meus próprios rios e os cânticos dos pássaros,

Sou as profecias que sonharam os destemidos poetas,

Sou as risadas de minhas lágrimas e de meus montanhosos bálsamos,

Sou as rotações e as translações das fases e personas de meu ser,

Sou o meu despertar e o meu adormecer.

Sou a morada de minha própria habitação,

Sou as pedras, os semáforos e as placas do meu infinito caminhar,

E os risos e as correntezas da ternura e da coragem sem pestanejar

Fortalecem as estradas, os sentimentos e a fé

De meu cansado e teimoso coração.