ENIGMA
Numa manhã de agosto
Após uma noite mal dormida
(Quase nada)
Busco em minhas reminiscências
Vestígios da noite passada.
Não saber o que fiz
Traz-me à tona
Todas as possibilidades
De erros e palavras mal-ditas.
Me tomo constrangido
Frente à meu próprio eu
Como quem fita um espelho
E já não reconhece seu reflexo.
Sinto oque não sentia
E já não oque devia
Enterrado à poltrona
Por uma força vertiginosa.
Com as janelas
Meio-abertas
O ventilador
Meio-vento
A televisão
Meio-muda
Com a vida
Meio-morte.
Amuado mas conformado
Penso sucumbir
Ao fechar de pálpebras
E o serenar do corpo.
Quando um raio de luz
(Solar)
Me envade a morada
Mudando completamente
O semblante da manhã
Como um alguém
Que inesperadamente
Te puxa pelo braço
E lhe arrasta para fora do poço
D'onde você estava a flertar
Com o tédio.
Talvez este raio de luz
Resuma num pequeno gesto
A felicidade de uma amizade
Vida breve sem a certeza
De um amanhã
Que nada importa
Se não fosse pelo indício
Inglório do fim
Do momento presente.
Mas o que vale a vida?
Quando tudo se adquiri
E se descarta rapidamente.
Qual o valor do dinheiro?
Se não o tempo que se gasta
Para tê-lo.
Nada compra a vida - o tempo
Que gasta-se apenas
Até sumir irremediavelmente
Por entre as faces
Da memória.