ENIGMA

Numa manhã de agosto

Após uma noite mal dormida

(Quase nada)

Busco em minhas reminiscências

Vestígios da noite passada.

Não saber o que fiz

Traz-me à tona

Todas as possibilidades

De erros e palavras mal-ditas.

Me tomo constrangido

Frente à meu próprio eu

Como quem fita um espelho

E já não reconhece seu reflexo.

Sinto oque não sentia

E já não oque devia

Enterrado à poltrona

Por uma força vertiginosa.

Com as janelas

Meio-abertas

O ventilador

Meio-vento

A televisão

Meio-muda

Com a vida

Meio-morte.

Amuado mas conformado

Penso sucumbir

Ao fechar de pálpebras

E o serenar do corpo.

Quando um raio de luz

(Solar)

Me envade a morada

Mudando completamente

O semblante da manhã

Como um alguém

Que inesperadamente

Te puxa pelo braço

E lhe arrasta para fora do poço

D'onde você estava a flertar

Com o tédio.

Talvez este raio de luz

Resuma num pequeno gesto

A felicidade de uma amizade

Vida breve sem a certeza

De um amanhã

Que nada importa

Se não fosse pelo indício

Inglório do fim

Do momento presente.

Mas o que vale a vida?

Quando tudo se adquiri

E se descarta rapidamente.

Qual o valor do dinheiro?

Se não o tempo que se gasta

Para tê-lo.

Nada compra a vida - o tempo

Que gasta-se apenas

Até sumir irremediavelmente

Por entre as faces

Da memória.

HenriqueBazzí
Enviado por HenriqueBazzí em 18/12/2017
Código do texto: T6201848
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