Elevados no ar

As mariposas estão no chão, imóveis.

Ontem no ar que as envolveu estava a morte.

Nos papéis umedecidos as letras se borram,

Nenhum verso é compreensível, nenhuma mensagem…

Manchas escurecidas pelas paredes, a casa fria…

Por aqui pousam os esquecidos, pensamentos e formas

Resistindo à passagem do tempo,

Criam seres que não podem morrer, nem viver,

Apenas alimentam-se das frustrações de todos os sonhos que ficaram pelo caminho,

De todos os projetos inacabados,

De escombros,

De amores que nunca tiveram força,

Das juras desfeitas,

Das razões impensadas…

Eu sinto o quarto, a solidão da cama desfeita,

Abandonada para sempre,

Que não terá mais calor algum…

As mariposas estão sendo levadas pelo vento,

Partes delas se mistura com o ar,

E todos os seres agora podem também,

Não apenas sentir o que lhes aconteceu,

Mas dormirem levemente

A se decomporem em elementos que possam ser

Elevados no ar...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 04/05/2018
Reeditado em 04/05/2018
Código do texto: T6326719
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