Enxergava, Mas Não Via

Estava cego e não vi

O amarelo, o vermelho, o verde,

O sol, a chuva, a água que mata a sede.

Estava cego e não vi

O peixinho no rio, o passarinho no ninho,

A geada no frio, a leveza do gatinho.

Estava cego e não vi

A beleza da dança, a elegância dos elefantes,

O voo das borboletas, azuis elegantes.

Estava cego e não vi

As lindas rosas enfeitando o jardim,

Pessoas amigas precisando de mim.

Mas mesmo cego enxerguei sim

A pornografia, a violência cruel,

O erro, o defeito do outro ao léu.

Estava cego, mas enxerguei sim

O que não precisava ter visto,

No olho do mundo: um quisto.

Estava cego, mas enxerguei sim

Alguém me comprando a propinas,

O mal pervertendo minha sina.

Enquanto se enxerga e não se vê

Se finge estar no controle do querer.

Eu pensava ter visão, mas era ilusão,

Além da mentira, nada diante da visão.

Mas então ele tocou minha retina

E se aclarou dos olhos a menina.

Quando enfim comecei a ver

Que a vida é mais que possa parecer.

Hoje com a consciência eu vejo distante,

Com coração levo meu campo adiante.

Vendo bem é como então eu sigo

Enxergando muito além do meu umbigo.